O Programa Nacional de Imunização (PNI) brasileiro é um dos mais completos programas de imunizações do mundo, reconhecido pelas estratégias coletivas e individuais que asseguraram elevadas coberturas vacinais para quase todos os imunobiológicos durante várias décadas. Isso permitiu alcançar a redução progressiva das taxas de incidência e óbitos por doenças imunopreveníveis, como o sarampo, poliomielite e coqueluche (SATO, 2020; BRASIL, 2019; OMS, 2019; SATO, 2018). No Brasil, a oferta nacional gratuita da imunização é feita por meio dos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) e a precarização progressiva destes serviços podem influenciar a situação vacinal de grupos populacionais que estão no território de abrangência destes serviços (VIEIRA et al., 2020). O aumento do número de postos e centros de saúde nos últimos 30 anos, acompanhado do aumento da cobertura populacional pela Estratégia Saúde da Família e equipes de AB, ampliou o acesso da população aos serviços, mas ainda perduram as desigualdades regionais da estrutura dos serviços de saúde (VIACAVA et al., 2018; SOARES NETO, MACHADO E ALVES, 2016). O SI-PNI (sistema informatizado do Programa Nacional de Imunização) representa um avanço na gestão de dados de cobertura vacinal no Brasil e acompanha a tendência dos países da América Latina (DANOVARO-HOLLIDAY et al., 2019). O registro das doses de vacinas no atual sistema é feito nominalmente, por indivíduo vacinado em substituição ao sistema anterior, no qual o registro era agregado por municípios ou localidades, permitindo o monitoramento preciso dos indicadores de cobertura vacinal (DANOVARO-HOLLIDAYet al., 2019). Contudo, a redução nacional das taxas de cobertura vacinal nos últimos anos sinaliza um problema para a imunidade coletiva e risco de ressurgimento de doenças até então controladas ou erradicadas. A tendência de redução na cobertura da vacina contra a tuberculose, poliomielite e tríplice viral no Brasil, no período entre 2006 e 2016, por exemplo, foi apontado por estudo que investigou variações espaciais e temporais de cobertura vacinal nos municípios brasileiros (ARROYO et al., 2020). Em geral, a queda das coberturas vacinais é um processo complexo que pode ser afetado por vários fatores, como os contextuais - fatores históricos, socioculturais, ambientais, do sistema de saúde / institucionais, econômicos ou políticos e os individuais e de grupo (VIEIRA et al., 2020; YISMAW et al. 2019; SATO, 2018; FERREIRA et al., 2018; TAUIL et al., 2016). No Estado de Minas Gerais, a queda da cobertura vacina seguiu tendência similar a dos demais Estados do Brasil (SATO, 2018). Muitos são os fatores, como os contextuais e individuais, que podem colaborar para a queda das coberturas vacinais, e dentre eles, cita-se: precarização do Sistema Único de Saúde (SUS); implantação do novo sistema de informação em imunização (SI-PNI); aspectos sociais e culturais que afetam a aceitação da vacinação; introdução pelo PNI de diversas vacinas no calendário de rotina em um curto período; movimentos antivacinas e inconstância na disponibilidade de imunobiológicos nos serviços de Atenção Primária à Saúde (VIEIRA et al., 2020; SATO, 2018). Estudo nacional que investigou áreas com queda da cobertura da vacina contra a BCG, poliomielite e tríplice viral no período de 2006-2016 apontou a formação de bolsões de indivíduos suscetíveis em determinados municípios brasileiros, sendo esta a única pesquisa nacional que identificou áreas com maior risco de transmissão de doenças infecciosas imunopreveníveis por meio da análise espacial (ARROYO et al., 2020). Considerando este cenário, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os programas de imunizações identifiquem regularmente se existem bolsões de grupos com baixas coberturas vacinais no país e, caso existam, investiguem os fatores associados às baixas coberturas vacinais, sendo este monitoramento um eixo estratégico das boas práticas de gestão de programas de imunização (OMS, 2014). Dado o complexo cenário de queda da cobertura vacinal que se instala no Brasil, com motivos descritos para o insucesso das atuais medidas, e com a comprovação das dificuldades enfrentadas pelo PNI, existe uma crescente preocupação com a criação de estratégias que visem o aumento da cobertura vacinal. Para além do monitoramento, são imprescindíveis estratégias, como a discussão em eventos científicos, para a melhoria dos indicadores de imunização e avaliação do impacto destas estratégias, comparando os indicadores de imunização antes e após a intervenção. Considerando o comprometimento da imunidade coletiva, que pode ter sido agravada pela pandemia COVID-19, aumentando o risco de circulação de doenças imunopreveníveis na população infantil, o Estado de Minas Gerais realiza esta parceria com o NUPESV (Núcleo de Estudos e Pesquisa em Vacinação – CNPq), a ser melhor detalhada a seguir. 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral • Discutir sobre os desafios e estratégias na produção do conhecimento e nas diferentes formas de publicação e disseminação do conhecimento produzido na temática vacinação. 2.2. Objetivos específicos • Apresentar o cenário brasileiro e mineiro sobre a cobertura vacinal; • Discutir sobre a classificação de risco para transmissão de doenças imunopreveníveis no Brasil e Minas Gerais; • Propiciar uma reflexão na comunidade cientifica sobre estratégias para melhorar a cobertura vacinal em Minas Gerais e, consequentemente, Brasil.